Sérgio Tannenbaum
Ainda não eram nove da manhã e a perua dobrava a esquina e vinha lentamente em direção ao prédio, anunciando:
“Pamonha, pamonha, pamonha. Pamonha de Piracicaba. Pamonha, milho verde e curau.”
Uma frase já era
suficiente para acordar qualquer um. Mesmo aqueles de sono mais pesado eram
religiosamente despertados pelo homem da pamonha, todos os domingos. E enquanto
houvesse um único morador
no prédio ou em toda
vizinhança dormindo, lá vinha o alto-falante:
“Pamonha, pamonha,
pamonha. Pamonha de Piracicaba. Pamonha, milho verde e curau.”
Nas primeiras
semanas, apesar do incômodo, nada fizemos. Era só uma questão de tempo. Logo o
Pamonha, como ficou conhecido o sujeito, iria arrumar outros clientes nas
redondezas e nos deixaria em paz. Mas passados dois meses, o inferno
continuava. Por isso, resolvemos convocar uma reunião dos moradores.
A assembléia foi marcada para o domingo, às nove da manhã. Tínhamos certeza de que todos estariam acordados e, principalmente, revoltados com o Pamonha. Foi o maior quorum em assembléias de toda a história do condomínio.
A assembléia foi marcada para o domingo, às nove da manhã. Tínhamos certeza de que todos estariam acordados e, principalmente, revoltados com o Pamonha. Foi o maior quorum em assembléias de toda a história do condomínio.
Foram necessários
menos de quinze minutos para a deliberação final.
Definiram-se três
etapas para se alcançar o objetivo. A primeira consistia em dialogar com o
Pamonha e tentar convencê-lo a ir embora. A segunda etapa seria subornar o
Pamonha para que ele sumisse do mapa. Se isso também não funcionasse, a última
etapa, a mais radical, deveria entrar em ação. Uma criança, escolhida por
sorteio no condomínio, iria se vestir com um colete de dinamite e ser explodida
exatamente no momento em que fosse comprar uma pamonha.
A terceira etapa nem
precisou ser acionada. O Pamonha fez um acordo: não mais usaria o alto-falante
se tivesse garantida a compra de vinte pamonhas por domingo. Era um preço baixo
que tínhamos que pagar. Dividíamos as despesas entre os moradores. Cada semana,
cinco apartamentos recebiam as pamonhas. Muitos abriram mão da pamonha e apenas
pagavam a sua parte.
Com o passar do
tempo, as pessoas foram enjoando das pamonhas. Ninguém mais agüentava o cheiro
de milho verde. Em nova assembléia, novamente por unanimidade, ficou
estabelecido que o Pamonha nem precisaria mais entregar as pamonhas. E mais: se
ele insistisse em entregar as pamonhas, a etapa três seria ativada. Mas, para o
Pamonha não sair no lucro, combinamos que ele deveria entregar as pamonhas
gratuitamente numa favela próxima.
O valor rateado para
pagar o Pamonha já estava embutido no total do condomínio do mês, o que fez com
que muitos moradores esquecessem definitivamente o assunto. Os novos moradores
surpreendiam-se ao ver na prestação de contas do condomínio um item denominado
“taxa do Pamonha”. Diante do valor pouco expressivo, contentavam-se com
qualquer explicação do síndico.
O Pamonha, por sua
vez, cumpriu sua parte no acordo. Toda semana aparecia na favela pra distribuir
as pamonhas gratuitas. Assim, foi-se tornando muito popular e querido na
região. No domingo, as crianças esperavam ansiosas a chegada da perua. Para
muitas, o curau, o milho verde ou as pamonhas entregues de graça eram a única
refeição em muitos dias.
O Pamonha já não era
só o Pamonha. Passou a ser chamado de o “Pamonha, o amigo dos pobres”. E mesmo
sem nos consultar, ele resolveu entregar as pamonhas gratuitas em outras
favelas mais distantes. Em dois anos, “Pamonha, o amigo dos pobres” já era
conhecido em todas as favelas da região. Seus fãs queriam ver o seu trabalho
comunitário e filantrópico patrocinado pelo governo, já que “o coitado pagava
tudo do bolso”. Queriam-no como vereador.
As comunidades que o
Pamonha visitava aos domingos resolveram se unir para eleger o seu candidato.
Fizeram bazares, jogos de futebol e venderam artesanato com o objetivo de
arrecadar fundos. Consultores de marketing político foram contratados. A
candidatura do Pamonha se tornou realidade.
Agora, três vezes por
dia, todos os dias da semana (inclusive domingo), passa um trio elétrico na
porta do prédio, anunciando:
“Pamonha, Pamonha,
Pamonha. Pra vereador, vote no Pamonha, o amigo dos pobres.”
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Estudo do Texto
1) Por que os
moradores resolveram fazer uma reunião?
2) A reunião foi
marcada para domingo às 9 horas. Por quê?
3) Os moradores
chegaram rapidamente a um acordo sobre o que seria feito. Quais eram as três
etapas que eles seguiriam para acabar com o problema?
4) “A terceira etapa
nem precisou ser acionada. O Pamonha fez um acordo.” Qual foi o acordo feito?
5) Por que o Pamonha
ficou conhecido como “Pamonha, o amigo dos pobres”?
6) As pessoas queriam
o Pamonha como vereador. O que elas fizeram para que isso se tornasse real?
7) Qual foi a
consequência da candidatura do Pamonha para os moradores do prédio?
8) Qual desses
ditados populares funciona como moral da história?
a) Quem ri por
último, ri melhor.
b) Nada é tão ruim
que não possa piorar.
c) O pior cego é
aquele que não quer ver.
d) Um dia da caça,
outro do caçador.
Respostas:
1) Porque não aguentavam mais ser acordados pelo carro da pamonha.
2) Porque todos estariam acordados por causa do carro da pamonha e estariam irritados com isso.
3) 1ª - dialogar com o Pamonha; 2ª - suborná-lo; 3ª - sortear uma criança do condomínio para usar um colete de dinamites e explodir na hora de comprar a pamonha.
4) Eles pagariam um valor fixo de 20 pamonhas e ele não passaria.
5) Porque dava as pamonhas pagas para pobres em favelas.
6) Bazares, jogos de futebol, artesanatos etc.
7) Agora passa todos os dias, 3x por dia, um trio elétrico anunciando a candidatura dele.
8) b) Nada é tão ruim que não possa piorar.
Respostas:
1) Porque não aguentavam mais ser acordados pelo carro da pamonha.
2) Porque todos estariam acordados por causa do carro da pamonha e estariam irritados com isso.
3) 1ª - dialogar com o Pamonha; 2ª - suborná-lo; 3ª - sortear uma criança do condomínio para usar um colete de dinamites e explodir na hora de comprar a pamonha.
4) Eles pagariam um valor fixo de 20 pamonhas e ele não passaria.
5) Porque dava as pamonhas pagas para pobres em favelas.
6) Bazares, jogos de futebol, artesanatos etc.
7) Agora passa todos os dias, 3x por dia, um trio elétrico anunciando a candidatura dele.
8) b) Nada é tão ruim que não possa piorar.
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